Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

07 agosto, 2011

Puseram-se a contar pelos dedos os barcos que faltariam para chegar o verão

Junto ao rio, os casais abraçam-se e beijam-se como se estivessem sozinhos no mundo.

Não há multidão em volta, barcos de todo o mundo, não há nada que os distraia um do outro.

Não há casa mais aconchegante que um sítio assim, sobre o rio, rodeados de azul, um sítio onde se possam sentar, alheados dos outros, entregues a si próprios, onde os beijos têm o sabor da maresia.

Sabem que é ali que se vão dizer as palavras mais amorosas e passar dos melhores momentos da sua vida, ali nada de mau lhes poderá acontecer.



Sentaram-se na areia e descalçaram os sapatos.
Puseram-se a contar pelos dedos os barcos
que faltariam para chegar o verão.

Nenhum deles falava. Tinham passado juntos
algumas noites; num quarto sem vista. E, embora
julgassem o contrário, não conheciam um do outro
muito mais do que isso.

Estavam ali sentados para ver se acontecia alguma coisa.

No verão
alguém viria forçosamente buscá-los.


(Poema de Maria do Rosário Pedreira, in “A casa e o cheiro dos livros”)

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