Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

17 agosto, 2011

Procuravam então e perdiam com igual generosidade a única inocência de não ter um passado

Que todos quantos têm a inocência no olhar saibam amar tanto quando desejam.

Que nenhuma censura interna ou social tolha os movimentos de todos quantos queiram abraçar-se e beijar-se sob às árvores da beira-mar.

Que todos quantos tenham todo o tempo do mundo ou todos quantos tenham já pouco tempo, saibam ouvir o rumor do mar, sentir a aragem sob as árvores, saibam fazer de um simples recanto a sua casa, das ramagens as cortinas, da relva a sua cama.

Que a luz os ilumine, que a penumbra os proteja.

Jardim do Ginjal, à beira Tejo

Por entre as árvores da beira-rio
o relevo do seu segredo brando
um ramo   um braço de vento acenam
à peregrina luz

Somos tão inocentes quando
ainda há fins escolares para celebrar

Abraçados pelo bosque caminharam
até à enseada
procuravam então e perdiam
com igual generosidade
a única inocência de não ter um passado
quando molhados sobre a magem
de repente depararam com a maior imensidão
do tempo


(Silvestre de José Tolentino de Mendonça in A noite abre meus olhos)

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