Tantas vezes nos aconteu isto, meu amor. Pocurávamos os grandes espaços e abrigávamo-nos um no outro ou simplesmente olhávamos o ponto inexistente que era o nosso ainda inexistente mundo.
De frente para o horizonte, sabíamos que tínhamos a vida pela frente. Em silêncio, imóveis, perdidos dentro do imenso futuro que se abria, procurávamos o fim da tarde, sentíamos que a noitinha nos abrigava.
Éramos, então, jovens amantes. E ainda somos.
Há pouco, rente ao Tejo, de frente a Lisboa, uma luz fabulosa Lisbon in blue |
São assim os amantes
ao entrelaçarem as mãos
Imóveis como estátuas
olham muito ao longe
o mesmo ponto inexistente
Guardam nos corpos
a viscosidade, o odor, o calor
próprios dos recém-nascidos
Não falam porque é sua
a quietude e o silêncio
da tarde que chega ao fim
perto deles um roçagar de asas
De casa de seus pais
para onges terras
um dia foram levados
('São assim os amantes' de Rui Caeiro in 'O quarto azul e outros poemas')
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