Peço-te que feches as cortinas. Maria Teresa diria que é para que a luz fique mais espessa. Tiro o vestido pela cabeça. Fico despida.
Olhas-me e queres ver-me melhor. Dizes que queres que a luz do dia me ilumine.
Abre, então, devagar, digo eu. E então abres um pouco - e as minhas pernas acendem-se.
Mais um pouco, digo. E tu abres - e o meu ventre acende-se.
Agora podes abrir mais. E os meus seios acendem-se também.
Agora vem, digo-te. E beijo-te.
A seguir corro de novo as cortinas.
Há pouco, nas Docas, junto ao Tejo, de frente para o Ginjal |
Assim que te despes
as próprias cortinas
ficam boquiabertas
sobre a luz do dia
Os teus olhos pedem
mas a boca exige
que te inunde as pernas
toda a luz do dia
Até o teu sexo
que negro cintila
mais e mais desperta
para a luz do dia
E a noite percebe
ao ver-te despida
o grande mistério
que há na luz do dia
(Poema (XIII) de David Mourão-Ferreira in A arte de Amar)
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