Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

18 agosto, 2011

Agradeço à lentidão este exacto instante de me sentir exacta

Aqui o silêncio está cheio de todos os sons: um barco que passa, uma gaivora que voa baixo, um pássaro discreto.

Aqui, quem passa, não incomoda. O amor é uma coisa que se respeita.

E de frente para Lisboa ou rente ao Tejo ou simplesmente numa sombra cúmplice, os corpos alinham-se ou desalinham-se consoante o calor que se expande, talvez a partir das pernas.

No Jardim do Ginjal, sobre o Tejo, de frente para Lisboa, a Bela

A lentidão
é o ritmo necessário para escutar
o rumorejar do silêncio enrolando-se
no peito antes de entrar
no vazio

e para o sentir expandindo-se
em calor no corpo todo

enquanto o torso se ergue
paralelo à perna direita
e a esquerda se subtrai ao chão

agradeço à lentidão
este exacto instante
de me sentir exacta

alinhada com outro exacto corpo
e outro mais exacto ainda
do qual todos somos desdobramentos
exactos


(Poema de Ana Viana in 'A face oculta do vento', edição Indícios de Oiro)

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