Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

11 julho, 2011

Quantas pessoas caminham na minha direcção? Quantas me descobrem por entre a multidão?

Caminho por esta rua e comigo caminham as minhas palavras, a minha sombra, as minhas sombras. Junto a mim outras pessoas caminham e não as conheço e não me conhecem. Outras cruzam-se comigo e não me vêem.

Contudo, por vezes, as minhas palavras, mais rápidas que eu, voam sobre o rio e chegam até quem as sabe ler, as sabe ouvir.

Quando regressam, vêm felizes, as minhas palavras. Alguém as sussurrou baixinho, as beijou, as tomou por entre as mãos.

É isso que elas me contam quando regressam contentes - e com elas vem alguém até mim, alguém cuja sombra caminha junto à minha, os dois na mesma direcção.

No Ginjal, dois homens e um rapaz cruzam-se comigo e seguem a sua direcção, em direcção ao sol que se põe sobre o Tejo

Quantas pessoas caminham na
minha direcção? Quantas me
descobrem por entre a multidão
e pousam os seus olhos inteiros
nos meus olhos? Podia acreditar

que entre elas está o homem que
trocaria comigo os dedos sobre a
mesa, uma palavra que fosse gomo
de laranja e poema, o corpo aceso

sob o lençol cansado de mais um
dia. Mas quantos destes rostos de
pedra que me cercam escondem o
seu pelas ruas desta tarde? Quantos
nomes de acaso e de silêncio terei
eu de escutar para descobrir o seu

no meu ouvido? Quantas pessoas
caminham contra mim?

 (Poema de Maria do Rosário Pedreira in 'Nenhum Nome Depois'

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