Quando me recordas, como me recordas? Recordas-me como eu era antes de me ter descoberto perante ti? Recordas os véus que, um a um, foste retirando? Recordas a minha voz que ria para ti? Recordas a minha alma que, aos poucos, foste conhecendo? Como me recordas? Diz-me. Gostava de saber como me recordas.
Eu, de ti, my love, recordo mais, sabes o quê?, os teus lábios, os lábios que se esmagavam contra os meus, os teus lábios insuportavelmente felizes, my love.
Num final de dia, no Ginjal, junto às canas dos pescadores, casal sobre o Tejo, o Padrão das Descobertas logo ali |
O rosto erecto
dá a impressão de inclinado
por certa graça esplendente
de nobreza
Rio lindo chama pura
aparição convergida
pelos astros espantosos
Deixas-me o corpo o teu corpo
e o desenho da tua alma
nas minhas mãos escultoras
Deixas-me a voz essa voz
que guarda vozes no fundo
Dos seus véus de maravilha
deixas-me véus maravilhas
a confiança na vida
E dois lábios esmagados
insuportáveis felizes
dá a impressão de inclinado
por certa graça esplendente
de nobreza
Rio lindo chama pura
aparição convergida
pelos astros espantosos
Deixas-me o corpo o teu corpo
e o desenho da tua alma
nas minhas mãos escultoras
Deixas-me a voz essa voz
que guarda vozes no fundo
Dos seus véus de maravilha
deixas-me véus maravilhas
a confiança na vida
E dois lábios esmagados
insuportáveis felizes
('Recordação' de Alberto de Lacerda in '366 poemas que falam de amor', antologia organizada por Vasco Graça Moura)
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