Já nos conhecemos? Ainda somos desconhecidos?
Não sei, mas penso que não temos pressa, os labirintos da vida trouxeram-nos até aqui, ao lugar das palavras.
Gostava de poder dizer que às vezes nos sentamos neste banco, devagar, a olhar os mesmos barcos, o mesmo rio, o tempo que se vai desenhando assim, desfasado. Mas não é verdade, pois não? Isso não temos.
Mas deixa, aproveitemos o que a vida nos deu. Palavras. Um imenso mar de palavras. Esperemos que palavras sempre sem mácula, sem enganos.
| Há pouco, ao cair do dia, depois de um dia de afazeres, casal senta-se num banco junto aos barcos, de frente para o Tejo, e os dois aconchegam-se um no outro, de frente para Lisboa |
Nada entre nós tem o nome da pressa.
Conhecemo-nos assim, devagar, o cuidado
traçou os seus próprios labirintos. Sobre a pele
é sempre a primeira vez que os gestos acontecem. Porém,
se se abrir uma porta para o verão, vemos as mesmas coisas -
o que fica para além da planície e da falésia; a ilha,
um rebanho, um barco à espera de partir, uma palavra
que nunca escreveremos. Entre nós
o tempo desenha-se assim, devagar.
Daríamos sempre pelo mais pequeno engano.
(Poema de Maria do Rosário Pedreira in 'A Casa e o cheiro dos Livros' um belo livro com um belo nome)
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