Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

21 julho, 2011

Hoje disponho o mar ante os teus olhos, a tempestade, a crueza sistemática das coisas

Por aqui passeio contigo, meu amor.

 Sento-me a ver o rio, a cidade.

Perante ti vou dispondo as peças: a ponte, o farol, a barra lá ao fundo, depois as ruas, as casas, e, no rio, os navios, as velas nos veleiros, a melodia do vento.

Então tu, carinhoso, pegas nas minhas mãos e dizes-me que já percebeste, que já sabes que, para ti, construo cidades inventadas, rios sonhados.

Gosto que me dês a mão.

Dizes-me que vieste de longe até aqui, até a este jardim em que as dúvidas se dissiparam, um jardim em que a solidão e os insondáveis abismos se diluiram, rio abaixo.

Aqui, neste jardim, meu amor, as tuas mãos e as minhas mãos, afastam qualquer tempestade.


Do jardim do Ginjal, o Tejo, Lisboa e a Ponte avistados através da vegetação


Uma troca simples de mãos para que a melodia vingue
no andamento em que nos reconhecemos.
Uma fracção de tempo, um disparo
para que se entreteçam as pedras, os blocos de fogo.

Hoje disponho o mar ante os teus olhos, a tempestade,
a crueza sistemática das coisas, essa chuva que arde
neste efémero instante
que corta a costa, a barra, o farol.

De onde venho? Correspondo a que uivo
nesta solidão entre o abismo e coisa nenhuma? 


("Uma troca simples de mãos para que a melodia vingue" de Amadeu Batista in "366 poemas que falam de amor"

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