Por aqui passeio contigo, meu amor.
Sento-me a ver o rio, a cidade.
Perante ti vou dispondo as peças: a ponte, o farol, a barra lá ao fundo, depois as ruas, as casas, e, no rio, os navios, as velas nos veleiros, a melodia do vento.
Então tu, carinhoso, pegas nas minhas mãos e dizes-me que já percebeste, que já sabes que, para ti, construo cidades inventadas, rios sonhados.
Gosto que me dês a mão.
Dizes-me que vieste de longe até aqui, até a este jardim em que as dúvidas se dissiparam, um jardim em que a solidão e os insondáveis abismos se diluiram, rio abaixo.
Aqui, neste jardim, meu amor, as tuas mãos e as minhas mãos, afastam qualquer tempestade.
Do jardim do Ginjal, o Tejo, Lisboa e a Ponte avistados através da vegetação |
Uma troca simples de mãos para que a melodia vingue
no andamento em que nos reconhecemos.
Uma fracção de tempo, um disparo
para que se entreteçam as pedras, os blocos de fogo.
no andamento em que nos reconhecemos.
Uma fracção de tempo, um disparo
para que se entreteçam as pedras, os blocos de fogo.
Hoje disponho o mar ante os teus olhos, a tempestade,
a crueza sistemática das coisas, essa chuva que arde
neste efémero instante
que corta a costa, a barra, o farol.
a crueza sistemática das coisas, essa chuva que arde
neste efémero instante
que corta a costa, a barra, o farol.
De onde venho? Correspondo a que uivo
nesta solidão entre o abismo e coisa nenhuma?
nesta solidão entre o abismo e coisa nenhuma?
("Uma troca simples de mãos para que a melodia vingue" de Amadeu Batista in "366 poemas que falam de amor"
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