Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

01 junho, 2011

Da cintura aos joelhos é que a areia queima, o sol é secreto, cego o silêncio

Deita-te comigo.

Comecemos pelas palavras.

A seguir concentremo-nos nos lábios. Deixemos que se entendam.

Depois deixa: o que vier a seguir virá por bem.

Ao entardecer, no Ginjal, o Tejo cintilante

Entre os teus lábios
é que a loucura acode
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.

('Retrato ardente' de Eugénio de Andrade, in "Obscuro Domínio" e "Antologia breve")
 

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