O teu corpo, ah o teu corpo que tanto eu gostava de percorrer.
Aqui de noite a olhar as margens deste rio que nos separa, relembro o teu corpo e não adormeço -sei que, sem ti, as águas parecem-me sem vida, estagnadas.
Tenho frio. Percorre-me o corpo uma saudade de ti.
Por onde andas? Já nem sei como te encontrar, esqueci a tua morada. Estás tão longe.
Aninhado no farol de Cacilhas, junto ao Tejo, Lisboa logo ali, um homem descansa ao sol |
Subi e desci, tantas vezes,
o teu corpo percorrido pela música,
pelas doze cordas de Ocidente,
pelos tambores leves que trouxeste das outras
margens,
do contínuo rumor das tendas.
Não,
não adormeço, tenho frio,
tenho um sonho de águas estagnadas que me
espera ao abrir dos olhos.
Hoje,
ao contemplar os jardins fechados,
recordo tudo isso,
escrevo,
parto sonambulamente,
mas não sei onde encontrar a tua morada,
os gladíolos ardentes.
('Subi e desci' de José Agostinho Baptista in 'Esta voz é quase o vento')
Sem comentários:
Enviar um comentário