O tempo era puro, os dias eram demorados: numa hora vivíamos um dia, num dia vivíamos um mês e a vida era nossa, só nossa, sem mácula.
E todos os dias eu regressava a ti e tu a mim.
Tempos longínquos.
Agora eu já não regresso a ti. E tu já não regressas a mim.
Os deuses afastaram-se de nós, meu amor.
No Ginjal, nestes dias de chuva, mulher sozinha, abriga-se junto às paredes degradadas |
Nunca mais te darei o tempo puro
que em dias demorados eu teci
pois o tempo já não regressa a ti
e assim eu não regresso e não procuro
o deus que sem esperança te pedi.
(Nunca mais de Sophia de Mello Breyner Andresen in Obra Poética II)
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