Não gosto de passear pela memória, tu sabes. Não que me faça doer mas porque gosto do tempo que vem, não do que foi.
Mas como ter-te só meu se não for assim?
Trago-te pois para junto de mim.
O olhar, os sustos, as secretas loucuras e a ternura, e a voz e os lábios (agora distantes).
Ainda és como te recordo?
Se calhar és outro e não já aquele. Se calhar és outro. Se calhar.
Velas brancas quase inventadas como os retratos das nossas memórias: as Descobertas, o Tejo, Lisboa, avistados do Ginjal num dia com uma luz assim, mágica. |
Nenhum de nós passeia impune
pelos retratos: fazem-nos doer
os recessos da memória.
pelos retratos: fazem-nos doer
os recessos da memória.
Deles saltam, por vezes, sustos,
primeiras noites, secreta
loucura, lábios que foram.
primeiras noites, secreta
loucura, lábios que foram.
Interditam-nos sempre.
Trepam-nos pelo torpor
mais desprevenido, subsistem.
Trepam-nos pelo torpor
mais desprevenido, subsistem.
A sua perenidade é volátil
e cheia de venenosos ardis.
Um sopro no acetato.
e cheia de venenosos ardis.
Um sopro no acetato.
Distintos, os seus contornos
não são nunca
os que supomos.
não são nunca
os que supomos.
('Nenhum de nós passeia impune' de Eduardo Pitta no recente e imperdível Desobediências)
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