Este rio imenso que olho, corre também dentro de mim
Esta música que sobe, sobe também dentro de mim.
A respiração que sinto em mim é também a tua, a do teu corpo que vive em mim.
Amorosamente olho a luz que tu olhas também. Estamos tão juntos. Estendo as mãos, toco o teu peito. Sentes?
Sobre o Ginjal, indiferente aos riscos anunciados, casal olha o Tejo e Lisboa, com a cortina de cabos da Ponte em fundo |
Respira. Um corpo horizontal,
tangível, respira.
Um corpo nu, divino,
respira, ondula, infatigável.
tangível, respira.
Um corpo nu, divino,
respira, ondula, infatigável.
Amorosamente toco o que resta dos deuses.
As mãos seguem a inclinação
do peito e tremem,
pesadas de desejo.
As mãos seguem a inclinação
do peito e tremem,
pesadas de desejo.
Um rio interior aguarda.
Aguarda um relâmpago,
um raio de sol,
outro corpo.
Aguarda um relâmpago,
um raio de sol,
outro corpo.
Se encosto o ouvido à sua nudez,
uma música sobe,
ergue-se do sangue,
prolonga outra música.
uma música sobe,
ergue-se do sangue,
prolonga outra música.
Um novo corpo nasce,
nasce dessa música que não cessa,
desse bosque rumoroso de luz,
debaixo do meu corpo desvelado.
nasce dessa música que não cessa,
desse bosque rumoroso de luz,
debaixo do meu corpo desvelado.
('Apenas um corpo' de Eugénio de Andrade)
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