Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

30 março, 2011

Amorosamente toco o que resta dos deuses

Este rio imenso que olho, corre também dentro de mim

Esta música que sobe, sobe também dentro de mim.

A respiração que sinto em mim é também a tua, a do teu corpo que vive em mim.

Amorosamente olho a luz que tu olhas também. Estamos tão juntos. Estendo as mãos, toco o teu peito. Sentes?

Sobre o Ginjal, indiferente aos riscos anunciados, casal olha o Tejo e Lisboa, com a cortina de cabos da Ponte em fundo

Respira. Um corpo horizontal,
tangível, respira.
Um corpo nu, divino,
respira, ondula, infatigável.

Amorosamente toco o que resta dos deuses.
As mãos seguem a inclinação
do peito e tremem,
pesadas de desejo.

Um rio interior aguarda.
Aguarda um relâmpago,
um raio de sol,
outro corpo.

Se encosto o ouvido à sua nudez,
uma música sobe,
ergue-se do sangue,
prolonga outra música.

Um novo corpo nasce,
nasce dessa música que não cessa,
desse bosque rumoroso de luz,
debaixo do meu corpo desvelado.

('Apenas um corpo' de Eugénio de Andrade)

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