Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

22 março, 2011

Amar-te assim desvelado entre os teus lábios fendidos

Saudades.

Junto a estas águas nuas, deixa que te diga da ternura, deixa que recorde os teus lábios, o teu olhar.

Olha o rio e deixa que o silêncio seja a música que nos une.

Olha a cidade branca e deixa que os nossos beijos a habitem.

E deixa que o nosso desejo seja navegável como o rio que amamos.

Dois jovens em Cacilhas, bem junto ao Tejo - Lisboa é uma esplêndida imagem na sua frente

Amar-te assim desvelado
entre barro fresco e ardor.
Sorver o rumor das luzes
entre os teus lábios fendidos.

Deslizar pela vertente
da garganta, ser música
onde o silêncio aflui
e se concentra.

Irreprimível queimadura
ou vertigem desdobrada
beijo a beijo,
brancura dilacerada

Penetrar na doçura da areia
ou do lume,
na luz queimada
da pupila mais azul,

no oiro anoitecido
entre pétalas cerradas,
no alto e navegável
golfo do desejo,

onde o furor habita
crispado de agulhas,
onde faça sangrar
as tuas águas nuas.

 
(Obscuro domínio de Eugénio de Andrade no livro homónimo)

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