Hoje quero beijar-te com saudade como beijo o Tejo com o olhar, este rio que tanto amo.
Hoje quero entregar-me inteira como sempre me entreguei, como me entrego à beleza deste Tejo que tanto amo.
Hoje quero manter bem guardadas as lembranças que não se diluem porque são lembranças sagradas, como sagradas são as ondas e tudo deste Tejo que tanto amo.
Hoje sou as tuas palavras, a música da tua voz, o teu olhar perene, sou o teu sono, a tua companhia - meu Tejo, meu amor.
(Magia, beleza: assim mesmo, sem qualquer retoque, vi este branco barco à vela, numa manhã branca no jardim do Ginjal)
Sou as palavras e os segredos que guardei
e um estrito reservar-me nunca soube porquê
se tão completa me entrego as vezes que me entreguei.
Sou a lembrança que se vai diluindo
em olhos que julguei perenes e consanguíneos.
Sou canções poemas e tantas
malbaratadas luas. E a música e os livros
e a varanda que um arquitecto desenhou
sem saber que era p'ra mim. E que perdi.
Sou o teu sono, minha gata, redondo ainda
e já inclinado ao fim. Sou árvores, o rio que amei,
as aves, as giestas, uma pouca de terra.
(Alguém de Soledade Santos, belíssimo poema in Sob os teus pés a terra)
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