Ou se eu pudesse destecer o tecido da minha memória, ou se eu pudesse ver-te do lado de lá da cidade, ou se o teu corpo fosse o mar e eu pudesse cair para dentro dele, num abraço apertado.
Ah se eu pudesse desamar ou, então, ter-te ao pé de mim quando daqui avisto o mar.
(Mulher tira fotografias em Cacilhas, o Tejo aqui mesmo, Lisboa logo ali.
'Todo o mundo diz que é boa mas como a vizinha não há; ela mexe com o juízo do homem que vai trabalhar')
Se eu pudesse desamar
destecer as barcas as dos autos do inverno -
frota de cabelos esparsos
por entre águas vertebradas
nas tuas pernas
perdição dos peixes.
Se eu pudesse digerir a cidade depois do teu nome
aparar a plumagem que me separa dos animais
e cair para dentro deles
num abraço escavado por eles
disponível para a idade para a margem da lavoura
onde nunca se aviste
o mar.
('Se eu pudesse desamar' de Catarina Nunes de Almeida in Bailias)
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