Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

16 fevereiro, 2011

Deito-me tarde, espero por uma espécie de silêncio

Assim acontece comigo.

Todos os dias, pacientemente espero que o silêncio se instale, que a noite desça, que as luzes todas se apaguem.

Só então chega o vazio perfeito, só então, quando a hora já é tardia, me sinto capaz de ver as imagens por detrás dos espelhos.

Vinda de Lisboa, em Cacilhas, à noite, mulher espera

Deito-me tarde
Espero por uma espécie de silêncio
que nunca chega cedo
Espero a atenção a concentração da hora tardia
ardente e nua
É então que os espelhos acendem o seu segundo brilho
É então que se vê o desenho do vazio
É então que se vê subitamente
A nossa própria mão poisada sobre a mesa

É então que se vê passar o silêncio

Navegação antiquíssima e solene


(Espera de Sophia de Mello Breyner Andresen in Geografia)

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