Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

03 fevereiro, 2011

Agora eu estou em mim e tu em mim

Às vezes olho o mar e penso que estás do outro lado; ou olho a janela e penso que estás do outro lado; ou olho os montes e penso que estás do outro lado; ou apenas olho a mesa e penso que estás do outro lado.

O mar, a janela, o monte, a mesa, traçam linhas que me separam de ti.

E tu olhas o mar, a janela, o monte, a mesa e pensas que eu estou do outro lado.

O mar, a janela, o monte, a mesa, traçam linhas que te separam de mim.

São linhas paralelas e ambos sabemos o que são linhas paralelas.

E, no entanto, tenho a mansa certeza de que um dia uma brisa vinda do mar soprará nestas linhas e as fará tocarem-se e, então, ficaremos aconchegados, nós dois pacificados.

Até lá sabemos que, haja o que houver, eu estou em ti e tu em mim.

Típico e aprazível Restaurante/Cervejaria Farol em Cacilhas, mesmo à porta do Ginjal, há pouco
A segurança destas paralelas
— a beira da varanda e o horizonte;
assim me pacifico, e é por elas
que subo lentamente cada monte.

O tempo arrefecido, e só soprado
por uma brisa tarda que do mar
torna este minuto leve aconchegado,
traz mansas as certezas de se estar.

E vêm novos nomes: são as fadas,
gigantes e anões, que são assim
alegres de o serem — parcos nadas

que enchendo de silêncios este sim
dele fazem brinquedos, madrugadas...
Agora eu estou em ti e tu em mim.


 
('A segurança destas paralelas' de Pedro Tamen, in Tábua das Matérias)


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