Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

25 janeiro, 2011

Enganei-me julgando que era fácil esquecer a funda melodia entre nós

Será cobardia esta minha forma de viver? Julguei que era fácil esquecer os teus gestos, o teu olhar.

Mas não é.

Sento-me aqui à noite, sozinho, a luz reflecte-se no rio, e eu escrevo apenas iluminado por este luar azul, como se te estivesse a escrever uma carta, 'meu amor, meu amor, quel solitude, mon amour'.

E, assim, vou esperando por ti até que a noite se faça madrugada.

Jovem sentado junto à base do Farol de Cacilhas, numa destas noites frias, junto a um Tejo quase cintilante sob a luz da Lua

Enganei-me julgando que podia
Facilmente deixar de pertencer
A esta dolorosa cobardia
De que é feito afinal o meu viver.

Sim, julguei que era fácil esquecer
A penetrante e funda melodia
Que entre nós é frequente aparecer
Num gesto ou num olhar de simpatia...

Mas ai!, mal me encontrei na solidão
Partiu-se todo o aprumo da firmeza
De encontro à minha eterna sujeição...

Era impossível! Não direi mais nada
- O resto é perguntar à natureza
Se a noite vai além da madrugada.


(Soneto de António Botto)

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