Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

27 dezembro, 2010

Senhora das tempestades e dos mistérios originais, senhora das marés vivas, senhora da vida

No teu olhar se perde o meu, tal como também o mar se perde o céu.
Volta para o meu peito, não saias mais.

Mas tudo em ti é partida, tudo em ti é distância.
E eu recolho-me em prece à Senhora dos Sete Mares, à Senhora das Tempestades.


(Espuma no Tejo, visto do Ginjal, hoje)

Senhora do vento norte com teu manto de sal e espuma
nasce uma estrela cadente de chegares
e há um poema escrito em página nenhuma
quando caminhas sobre as águas Senhora dos sete mares

(Navio cruzando o Tejo, Lisboa a bela do outro lado, hoje, numa fria manhã no Ginjal)

Senhora das águas transbordantes no cais de súbito vazio
Senhora dos navegantes com teu astrolábio e tua errância
teu rosto de sereia à proa de um navio
tudo em ti é partida tudo em ti é distância.

(Entardecer quase solitário hoje no Ginjal, sobre o Tejo em tons doces)

Senhora da hora solitária do entardecer
ninguém sabe se chegas como graça ou como estigma
onde tu moras começa o acontecer
tudo em ti é surpresa Senhora do grande enigma.

(Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, em Cacilhas, hoje ao cair da tarde, algumas pessoas em prece)

Tudo em ti é milagre Senhora da energia
quando tu chegas a terra treme e dançam as divindades
batem as sílabas da noite e tudo é uma alquimia
ao som do nome que só Deus sabe Senhora das tempestades.

(Excertos de Senhora das Tempestades de Manuel Alegre in Senhora das Tempestades)

2 comentários:

  1. gosto muito desde livro, até por ter poemas sobre a Foz do Arelho, a minha praia, o meu mar...

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  2. Também gosto imenso deste livro e também gosto muito da Foz do Arelho (especialmente quando é fácil arranjar lugar para estacionar o carro...). E já lá vi o Manuel Alegre com os seus apetrechos de pescaria.

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