Recordo as palavras que disseste e que diziam segredos, promessas imperfeitas, murmuradas enquanto os nossos beijos permitiam.
Mas eu fugi, o tempo passou.
Por isso, essas palavras que agora já tão pouco dizes, são palavras que são minhas, só minhas, palavras que persistem na memória que arrasto pelas ruas, pelos cais.
Mais um dia em vão num jogo que ninguém ganhou.
(A minha gaivota altiva, altaneira, vira as costas a Lisboa, devota apenas e só ao seu cais, à sua casa no Ginjal - e o Tejo azul, denso, a seus pés)
Palavras que disseste e já não dizes,
palavras como um sol que me queimava,
olhos loucos de um vento que soprava
em olhos que eram meus, e mais felizes.
Palavras que disseste e que diziam
segredos que eram lentas madrugadas,
promessas imperfeitas, murmuradas
enquanto os nossos beijos permitiam.
Palavras que dizias, sem sentido,
sem as quereres, mas só porque eram elas
que traziam a calma das estrelas
à noite que assomava ao meu ouvido...
Palavras que não dizes, nem são tuas,
que morreram, que em ti já não existem
- que são minhas, só minhas, pois persistem
na memória que arrasto pelas ruas.
('Um fado: palavras minhas' de Pedro Tamen)
um fado...
ResponderEliminarno Ginjal.
Gosto imenso da poesia de Pedro Tamen.
ResponderEliminarCuriosamente, passei grande parte da minha infância e da minha juventude em Almada. Estudei no liceu das tabuinhas, depois Escola Secundária Anselmo de Andrade. Frequentei o ano propedêutico no Externato Frei Luís de Sousa, fui professor provisório na Emídio Navarro, e era um dos muitos que se encostavam aos gradeamentos junto ao Café Central, para ver a moda passar.
A minha mãe, e parte da minha família, ainda mora em Almada.
Curioso...!
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