Se quiseres, posso mostrar-te as minhas mãos vazias, as mãos que são como os meus dias, vazios e banais.
Antes abraçavas-me como se abraça o tempo, como se a vida coubesse naquele momento e eram gestos que nunca eram iguais, eram beijos perfeitos roubados num umbrais e desde então eu penso que gostava de poder dizer-te 'não partas nunca mais'.
Era um desejo dourado, que ainda nos dura na pele - ainda me arde na memória o corpo que me deste e que toquei tão ao de leve.
Mas é contra a nossa vida o desejo que se tece: por isso vou, com versos, enganando o coração.
Mas, sabes, é para sempre.
(4 ever and ever! - alguém inscreveu esta declaração de amor eterno na Fonte dos Amores, digo na Fonte das Pipas, ao Ginjal)
O delicado desejo que te doura
e nos dura na pele quando anoitece
é contra a nossa vida que se tece
e é no verso que vive e se demora.
Amor que não tivémos nem nos teve
veio-nos chamar agora. De repente
fez-se névoa a palavra do presente
e luz teu corpo que toquei de leve.
Mas se arde na memória da canção
o corpo que me deste e me fugiste,
o verso é outro modo de traição
por que minto ao que nunca tu mentiste.
E enganamos assim o coração,
disfarçando de mitos o que existe.
(Apenas um soneto, poema lindíssimo de Luís Filipe Castro Mendes)
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