Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

22 dezembro, 2010

Elas passam, magras estudantes, julgando-se felizes talvez

À tarde,  quando se faz hora do regresso, o coração sussurra e quase cai.

(Rapariga de jeans na bilheteira do cais de Cacilhas, perto da entrada do Ginjal)

Elas passam, magras estudantes,
julgando-se felizes talvez,
passam e passam, as pernas e os dentes
mostram saúde e altivez.

Os jeans ao atravessarem a nave
maior do centro comercial
estreitam a cintura suave
numa falsa aparência virginal.

Vê-las alegra e entristece,
o seu corpo é uma matéria mais pura,
e cada uma, como se soubesse,
mostra-se obstinada e segura.

Passam e passam, são toda uma tarde,
sentinela que em mim sente
esta palha seca que arde,
que às vezes engana, mas não mente.

Poder tê-las sem qualquer dano
e à sua alegre inconsciência,
misturando nos dedos a pele, o pano,
os ossos, a transparência.

A tarde fez-se a hora do regresso,
o coração sussurra e quase cai
aos pés das raparigas a quem peço
‘de novo, levando-me, passai’

(de Pedro Mexia in Eliot e Outras Observações)

Sem comentários:

Enviar um comentário