Neste dia o sol não beijava o mar, neste dia Iemanjá não cobria o Tejo com as suas flores brancas.
Neste dia, apenas um navio atravessava o mar. O vento soprava gélido, havia bruma e espuma.
Não te vás.
Deixa-te estar na minha vida.
Como aquele navio sobre o mar.
(Fantástico navio que rasgou o Tejo a encarnado num dia especialmente cinzento, o Ginjal envolto em bruma, Lisboa coberta de tristeza)
Deixa-te estar na minha vida
como um navio sobre o mar.
Se o vento sopra e rasga as velas
e a noite é gélida e comprida
e a voz ecoa das procelas,
deixa-te estar na minha vida.
Se erguem as ondas mãos de espuma
aos céus, em cólera incontida,
e o ar se tolda e cresce a bruma,
deixa-te estar na minha vida.
À praia, um dia, erma e esquecida,
hei, com amor, de te levar.
Deixa-te estar na minha vida.
Como um navio sobre o mar.
(Cantiga de Cabral do Nascimento)
c do n, um grande poeta e um excelente tradutor de literatura
ResponderEliminarTambém acho. Este poema, então, é lindíssimo.
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