Com um brilhozinho nos olhos e a saia rodada, trago o cabelo aos ombros e passeio de cá para lá como as ondas do mar.
Com um brilhozinho nos olhos, trocámos de beijos, tão bom, era tão bom.
Tentávamos saber, para lá do que muito se amou, quem éramos nós, quem queríamos ser.
Pedes para não me descalçar porque gostas da cor dos meus sapatos, gostas do brilho que dão às minhas pernas.
E eu, namorada, faço-te a vontade e, com os meus sapatos calçados, ao de leve vou até à fonte dos amores dar de beber aos versos, enquanto espero por ti com um brilhozinho nos olhos.
(Fonte das Pipas, a Fonte dos Amores do Ginjal, milagrosamente respeitada, ainda imaculada, branca)
De bruços me debruço mais ainda
até sentir os olhos tumefactos
para saber até que ponto é linda
a intrigante cor desses sapatos
que às tuas pernas dão um brilho tal
e uma leveza tal ao teu andar,
que eu penso (embore aches anormal)
que nunca te devias descalçar.
Também porquê, se já não há verdura
nem tu és Leonor para correr
descalça, no poema, à aventura?
O mais difícil, hoje, é antever
quem é que vai à fonte em literatura
e que água dá aos versos a beber.
(de Joaquim Pessoa, o poeta da musicalidade das palavras)
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