Há quem diga que às vezes se vive numa quase mentira, acabando por nem dar conta do que se sente.
(Há quem diga que mais vale estar sozinha toda a vida do que ter um coração que mente.)
Assim, longe de ti, vivo a desenhar o teu rosto no sal dos mares por que ando, recordando o teu fogo no leito enquanto navego contra a corrente.
Vou de cais em cais, sozinha mas vivendo em ti, lembrando a curva dos teus braços, meu amor.
Eu sei que já devia ter havido uma longa despedida. Mas prefiro imaginar que uma estrela sobre o mar me indicará o caminho de regresso até ti.
Meu amor.
(O Queen Elizabeth 2, também conhecido por QE2, acostado em Lisboa, Alcântara-Mar, ontem visto do Ginjal, numa manhã gelada que soprava com força as velas dos pequenos e corajosos veleiros que desafiavam em valentia o enorme e luxuoso cruzeiro)
Abro as varandas altas da manhã:
o teu rosto é essa estrela sobre o mar.
Oh meu amor eu vivo a desenhar
o teu rosto de sal na praia vã.
De ti conheço um sopro, o naufragar
de um barco altivo por marés desfeito
e ando de porto em porto a recordar
a costa de ouro e fogo do teu leito.
Já te perdi de bússola e de norte
no caminho magnético dos astros
por tanto navegar contra a corrente.
Mas ao sabor a cor da minha morte
eu vivo em ti, na curva dos teus braços
com um deserto de fogo à minha frente.
(Uma longa despedida de José Carlos González)
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