Daqui pode ver-se a Lua, o mar ondula, o vento geme e o teu espírito renasce, puro. Na tua pele toda a terra treme. Morre a sombra desejada, numa esperança fugidia. Dizes-me até amanhã, que tem de ser, que te vais. Só que amanhã, sei-o bem, é sempre longe demais. Ou talvez não.
Nos teus olhos alguém anda no mar
alguém se afoga e grita por socorro
e és tu que vais ao fundo devagar
enquanto sobre ti eu quase morro.
E de repente voltas do abismo
e nos teus olhos há um choro riso
teu corpo agora é lava e fogo e sismo
de certo modo já não sou preciso.
Na tua pele toda a terra treme
alguém fala com Deus alguém flutua
há um corpo a navegar e um anjo ao leme.
Das tuas coxas pode ver-se a Lua
contigo o mar ondula e o vento geme
e há um espírito a nascer de seres tão nua.
(in Sete Sonetos e um Quarto de Manuel Alegre)
Sem comentários:
Enviar um comentário