Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

25 novembro, 2010

Jardim de inverno suspenso na manhã como um sol nos vidros

Dá-me a tua mão neste jardim suspenso na manhã, dá-me a tua mão para que eu sinta esse gesto no mais interior que tem a casa, para que eu sinta o teu corpo sobre o meu, para que eu sinta o mundo todo batendo no meu pulso. Dá-me a tua mão, vamos andar de mãos dadas por aí, pelo mar alto, dá-me a tua mão, vamos andar de mãos dadas para todo o sempre.

O impossível somos nós.

(Um dos sítios mais bonitos do mundo, um sítio de paz, onde os olhos não conseguem absorver todo o espírito, toda a magia do lugar: Jardim do Ginjal junto ao Elevador Panorâmico de Almada, o Tejo a correr manso, juntando com ternura as duas margens, Lisboa ali tão perto)

Jardim de inverno
suspenso na manhã

como um sol
               nos vidros
coalhado

cravado na cidade
e sobre a carne

sedento devagar
e tatuado

E semelhante
                 felino
e sequestrado

e só suspenso
mas firme
e aderente

É como um útero
secreto
e encontrado
onde se adivinha uma semente

E sobre a pele
oásis
pelos olhos

e nos sentidos
brandura
reinventada

como outro gesto
detido nas paredes
no mais interior
que tem a casa

e aí me detenho
e eu e tu nos encontramos

e aí penso
seguro
e me debruço

sentindo o teu corpo
sobre o meu

e o mundo batendo
no meu pulso

(Jardim de Inverno de Maria Teresa Horta)

1 comentário:

  1. sim, um lugar de grande tranquilidade...

    um ponto de partida para tantas viagens.

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