Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

11 novembro, 2010

Agora que as palavras secaram e se fez noite entre nós dois, que nunca caiam as pontes entre nós

Agora que as palavras secaram e se fez noite entre nós dois (que a nossa nem sequer foi uma história diferente) resta-nos este poema de amor e solidão.

Agora eu tenho a noite, tu tens a dor, tens o silêncio que, por dentro, sei de cor. Eu tenho o medo, tu tens a paz, tens a loucura que a manhã ainda te traz. Mas que, embora perdidos e sós, amantes distantes, nunca caiam as pontes entre nós.                      


(Nops... Um distinto Comandante de Cacilheiro numa manhã azul no Ginjal)

Agora que as palavras secaram
e se fez noite
entre nós dois,
agora que ambos sabemos
da irreversibilidade
do tempo perdido,
resta-nos este poema de amor e solidão

No mais é o recalcitrar dos dias,
perseguindo-nos, impiedosos,
com relógios,
pessoas,
paredes demasiado cinzentas,
todas as coisas inevitavelmente
lógicas

Que a nossa nem sequer foi uma história
diferente,
A originalidade estava toda na pólvora
dos obuses, no circunstanciado
afivelar
dos sorrisos à nossa volta
e no arcaísmo da viela onde fazíamos amor.


(in Marcas de Água de Eduardo Pitta)

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