Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

24 outubro, 2010

A vida feita dos seus corpos obscuros e das sua palavras próximas, na Pensão Célia

A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua mais que perfeita imprecisão, a vida que traz consigo as emoções e os acasos, a luz inexorável das profecias que um dia se vão realizar e dos encontros que sempre se soube que se iriam dar, mesmo que ainda não se saiba quando, onde.  

(Pensão Célia e Restaurante Marisqueira Vale do Rio, em Cacilhas, no Largo que dá entrada para o Ginjal)


A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua
mais que perfeita imprecisão, os dias que contam
quando não se espera, o atraso na preocupação
dos teus olhos, e as nuvens que caíram
mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações
a abrir-se para dentro e para fora
dos sentidos que nada têm a ver com círculos,
quadrados, rectângulos, nas linhas
rectas e paralelas que se cruzam com as
linhas da mão;

a vida que traz consigo as emoções e os acasos,
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram
e dos encontros que sempre se soube que
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo
o rosto sonhado numa hesitação de madrugada,
sob a luz indecisa que apenas mostra
as paredes nuas, de manchas húmidas
no gesso da memória;

a vida feita dos seus
corpos obscuros e das suas palavras
próximas.

("A vida" in "Teoria Geral do Sentimento", Nuno Júdice)
 
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