Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

12 outubro, 2010

O esquecimento, acredita, é a mais lenta das feridas mortais

A par da magia do Ginjal há, por vezes, alguma inquietude. Especialmente quando o dia cai, na penumbra, figuras solitárias pairam junto ao rio e das paredes saem criaturas misteriosas.

Uma inquietude mágica junto às águas escuras do Tejo.


(Figura inquietante pintada numa parede do Ginjal em Cacilhas)


Sempre amei por palavras muito mais
do que devia

são um perigo
as palavras

quando as soltamos já não há
regresso possível
ninguém pode não dizer o que já disse
apenas esquecer     e o esquecimento       acredita
é a mais lenta das feridas mortais
espalha-se         insidiosamente       pelo nosso corpo
e vai cortando a pele como se um barco
nos atravessasse de madrugada

e de repente acordamos um dia
desprevenidos      e completamente
indefesos

um perigo
as palavras


(Belíssimo poema de Alice Vieira in O que dói às aves)
.

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