Está tão longe aquele em que tanto penso.
Olho o mar e penso nos braços que antes me abraçavam, olho o mar com olhos vazios e penso: "Meu amor", olho o mar e imagino que, de longe, me chega a resposta tão desejada: "Minha querida".
Olho o mar e quero pensar: "Até um dia destes" porque, um dia, alguém me disse: "Vou mexer no destino, vou mudar-te a sorte"
(Mulher olhando o Tejo, a bordo de um barco no Ginjal)
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos.
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos.
(E por vezes, in Matura Idade de David Mourão-Ferreira)
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