12 junho, 2011

Eu sou talvez aquele que procuras

Neste labirinto, não sei se sou eu que te procura, se és tu que me procuras, se sou eu que me procuro.

A tua voz dentro do meu coração, a minha dentro do teu, o meu silêncio, a tua voz, as minhas e as tuas dúvidas, o meu corpo que te pertence, o teu corpo que me cobre a pele, um emaranhado de mim e de ti, nós dois para sempre juntos.

Emaranhado de linhas de pescadores no Ginjal

Eu não procuro nada em ti,
nem a mim próprio, é algo em ti
que procura algo em ti
no labirinto dos meus pensamentos.

Eu estou entre ti e ti,
a minha vida, os meus sentidos
(principalmente os meus sentidos)
toldam de sombras o teu rosto.

O meu rosto não reflecte a tua imagem,
o meu silêncio não te deixa falar,
o meu corpo não deixa que se juntem
as partes dispersas de ti em mim.

Eu sou talvez
aquele que procuras,
e as minhas dúvidas a tua voz
chamando do fundo do meu coração.


('O lado de fora' de Manuel António Pina in 'Poesia, saudade da prosa')

Sem comentários:

Enviar um comentário